"Viaje além de sua imaginação"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Árvore (Parte Final)

Seduzido pela árvore avermelhada, pelo cheiro forte de madeira velha e por algo que ele mesmo não poderia definir, Jonh estava lá, parado em frente à árvore. Foi andando lentamente até o nó grande e escuro e mais uma vez enfiou a cabeça lá dentro.

Como ele suspeitou, havia desmaiado novamente. Quando abriu os olhos estava de novo em sua casa, como se estivesse em uma dimensão pararela, sentia uma sensação estranha, como se ele não existisse, ele achava que estava tão leve quanto o ar, mas não flutuava. Agora, após ter visto que aquilo não foi só uma coincidência, que realmente havia uma espécie de portal naquela árvore, ele queria saber para onde aquilo levava exatamente.

Foi ao quarto onde outrora havia matado uma criatura nojenta, abriu a porta devagar, com medo do que poderia ver dessa vez, mas não havia nada lá, o quarto estava silencioso e limpo como se ninguém jamais tivesse freqüentado aquele lugar. Jonh resolveu investigar tudo, para ver se era exatamente igual ao quarto dele, começou pela janela e mais uma vez viu algo bizarro.

Lá fora, na rua cinzenta, justamente igual à rua de Jonh, mas com um céu totalmente branco, uma cena se repetia, como um filme, avançando e retrocedendo. Susan era atropelada pelo carro de Jonh e voava como uma boneca de pano sendo jogada no ar por uma criança, caindo no chão com um barulho horrível de ossos quebrando. Jonh assistia à cena apavorado, não conseguia se mexer, não conseguia sequer piscar os olhos, aquilo era horrendo, a mulher que ele mais amava, atropelado por ele mesmo, várias vezes. A criatura de um olho só não era nada comparada aquilo. Num esforço sobrehumano, Jonh fechou a janela e se jogou na cama, fechando os olhos; com o acontecimento ainda repetindo em sua mente, ele levantou e foi ao banheiro lavar o rosto. A água não saía da torneira, Jonh girou ao máximo a válvula para ver se a água surgia, mas para sua surpresa não foi água que saiu, e sim um líquido vermelho, denso e escuro. Em pouco tempo a torneira estava cheia de sangue e Jonh apavorado saiu correndo do banheiro para a sala, mas ao chegar lá viu que o espelho estava sendo bloqueado por várias criaturas, todas bizarras e deformadas, cada uma com meninas lindas com asas de anjo do lado.

Jonh estava pertubado, não sabia o que fazer, a cada segundo que se passava ficava mais difícil de respirar, seu coração batia tão rápido que parecia que ia explodir e ele foi tomado por uma dor de cabeça intensa, acompanhada de um cheiro de ferrugem que parecia sair de dentro dele. As criaturas urravam coisas ininteligíveis que percorriam toda a sala de estar e se misturavam com os choros, risos e canções de crianças. O cheiro de podridão infestava o lugar, Jonh não aguentava mais, estava suando frio, com o corpo todo vermelho e se coçando, numa espécie de agonia.

- SUMAM DAQUI SEUS MALDITOS! SUMAM DAQUI! - gritava Jonh. Mas era inútil, seus gritos eram abafados pelos murmúrios nojentos dos monstros.

Então, como da outra vez, uma solução pareceu surgir na sua frente, em cima de uma mesinha. Jonh tinha avistado um cutelo, perto do retrato de Susan. Enlouquecido como estava, não pensou duas vezes e pegou o objeto. Fechou os olhos, gritou e saiu retalhando cada coisa que encontrava pela frente, as crianças, os monstros e as coisas indefiníveis, foi uma banho de sangue e carne, ao meio dos gritos, urros e choros. Ao abrir os olhos, Jonh não conseguia definir, onde estavam os pedaços de cada um, mas não ficou lá para ver aquela chacina, pulou para dentro do espelho, saindo da sala podre tingida de vermelho e mergulhando na escuridão sem fim.

Quando despertou, levantou assustado, olhando ao redor, e ainda verificando se não tinha alguma criatura que o tivesse perseguido. Sua roupa não estava mais suja de sangue, estava limpa, como antes de ele entrar na árvore. Ainda muito suado, ele foi para o seu carro, estacionado perto do parque e voltou para casa, não estava nada bem, seja lá onde ele estivesse, tinha matado gente (ou quase gente) brutalmente.

Abriu a porta de seu apartamento, o apartamento número 1945. Ao entrar, gritou pelo nome de Susan, estava preocupado com ela, depois do que vira na janela. Ela não respondia.

- Susan! Onde você está querida!?

Jonh foi andando devagar até o quarto, acompanhado de um silêncio pertubador que apenas não era absoluto devido aos sons longiquos da TV em seu quarto. Ao chegar lá, encontrou Susan deitada na cama, vendo televisão com os olhos vidrados.

- Susan? Você está bem?

Ela não respondia, continuava com os olhos bem abertos, não piscava, nem mexia, nem nada.

- SUSAN! OLHA PRA MIM! - gritou Jonh, balançando Susan pelos ombros. No entanto, ela não reagia, parecia sem vida, como se estivesse paralítica, cega, surda e muda.

Jonh a pegou e a levou nas costas, correu desesperado até o corredor do seu andar e apertou freneticamente o botão para chamar o elevador, rezando para que ninguém estivesse nele, queria chegar o mais depressa possível em seu carro. Para a sua sorte, nenhuma pessoa entrou no elevador e ele rapidamente chegou ao estacionamento. Em frente ao seu carro, se atrapalhou na hora de pegar a chave e a derrubou, ficou xingando alto; a pegou e depois de várias tentativas conseguiu abrir a porta do veículo. Jonh pôs Susan no banco traseiro e em seguida partiu para o hospital.


Após vários exames na emergência, nenhum médico conseguiu dar o diagnóstico para Susan, apenas disseram que ela estava em estado vegetativo, não enxergava, não ouvia, não falava e não se mexia. Jonh perdera o seu maior tesouro, de repente. Tudo o que ele mais amava nesse mundo, a pessoa por qual ele daria a vida, de certa forma havia morrido... Do nada.

Passaram-se vários dias após o incidente e Jonh visitava Susan todos os dias após o trabalho, no hospital. Ele começou a pensar que talvez a árvore tivesse alguma relação com isso, mesmo não fazendo muito sentido. Ainda lembrava claramente do que tinha visto antes de entrar no nó da árvore pela primeira vez: "Você realmente me ama Susan?", como se a árvore já soubesse da existência dos dois. Relembrou das cenas que viu da janela do seu pseudo quarto, aquilo era inesquecível. Ele realmente achava que a árvore tinha algo a ver com tudo isso e foi até lá para buscar uma resposta.


Estava novamente de frente àquela coisa estranha, pronto para descobrir o porquê de tudo o que aconteceu, mesmo sabendo que pode acabar encontrando coisas que o traumatizarão; na verdade ele já estava traumatizado depois de tudo... Jonh estava completamente confuso, não sabia para onde ir ou o que fazer, havia sido demitido por brigar com o chefe novamente e quase teve uma overdose de anti-depressivos, sem contar as noites de insônia em que sonhava com Susan sendo atropelada e em seguida sendo devorada pelos monstros disformes.

Não restava muito o que fazer senão buscar as respostas que ele queria, e no momento, parecia que só a árvore podia dar aquilo para ele. Parou de pensar em todos esses fatos e hipóteses e entrou novamente no nó da árvore. Levantou-se apoiando as mãos em uma cadeira próxima ao espelho e acabou derrubando-a.

- NÃO!!!

Tarde demais, a cadeira havia se chocado com o espelho e o derrubou. Os estilhaços do vidro voaram por toda a parte, fazendo pequenos cortes no braço direito de Jonh.

- Meu deus... Tem que haver outra saída, TEM QUE HAVER OUTRA SAÍDA!

Jonh correu desesperado por todo o cômodo. As janelas não abriam, as portas estavam todas trancadas e por mais que Jonh tentasse quebrar as janelas e arrombar as portas, aquilo não fazia efeito, ele estava preso em outra dimensão. Tentou nos mais absurdos lugares encontrar um portal ou algum buraco para sair dali, mas foi inútil. Não se sabe quantos dias se passaram, mas Jonh não aguentou muito tempo, logo enlouqueceu, com a falta de água e comida e com o silêncio pesado que pairava ali. Ele morreu naquele lugar inexistente para as outras pessoas, de fato, para os outros Jonh nunca existiu, nem mesmo para Susan, que agora com certeza desejaria estar morta. Ele queria encontrar a resposta na árvore, parece que encontrou, talvez a morte fosse a única solução viável para a vida dele.

"Tudo o que ele queria era saber se Susan também o amava, queria poder ver os sentimentos dela, transformar o abstrato no concreto, só isso o convenceria da verdade", esse era o desejo de Jonh, transformar o abstrato no concreto, no fim, a árvore apenas fez o que ele desejava, transformou os sentimentos de Susan em algo concreto, desde os sentimentos horríveis como a dor, o ódio e a tristeza até os sentimentos lindos como o amor, a esperança e o otimismo. Jonh teve a chance de ver todos eles, viu como era confuso o coração de Susan e destruiu todos os sentimentos dela há golpes de taco de baseball e com um cutelo.

Jonh acabou fazendo aquilo que nunca imaginou que fosse fazer um dia, assassinar Susan, mas ele finalmente encontrou a resposta...

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