"Viaje além de sua imaginação"

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Os Contos de Lesaint

Era Feudal, ano de 456.

A famosa idade das trevas, onde a economia não crescia e o clero dominava as massas, a cultura estava estagnada. A igreja mantinha todos os povos aprisionados pelo medo, abusavam da ignorância das pessoas, a dominavam, faziam o que queriam: torturas, orgias, sacrifícios, adultérios...

Tudo que acontecia de bom era obra de Deus e todas as coisas ruins eram relacionadas a Satanás. Assim estava concretizado o apocalipse na Terra, que durou séculos, onde os homens poderosos do clero comandavam todos, como se fossem a mão de Deus.

A denominação "Era Feudal" originado do feudalismo, deu-se com os senhores feudais e seus respectivos feudos, grandes terras que pertenciam inteiramente a cada senhor feudal. Tudo ali produzido apenas servia para a subsistência; quem era senhor feudal, seria sempre um senhor feudal, quem era servo, seria sempre servo.

Ali, naquela era de escuridão, havia um grande feudo chamado Lesaint cujo dono chamava-se Charles Lesaint, os feudos sempre tinham o nome do senhor feudal. Charles vivia com sua família arrogante, todos comiam como porcos; o pouco de comida q restava era jogada aos servos. Os servos mais recentes sequer tinham nome, haviam perdido a linhagem no decorrer das gerações, não sabiam se algum dia já tinham pertencido a alguma família.

Os servos apenas falavam algo quando estavam juntos somente eles. Um grupo menor deles vivia dentro de uma pequena casa acabada perto da plantação de trigo; era uma família: uma senhora, um homem, uma mulher e dois meninos. A diversão dos garotos era ouvir as histórias da velha senhora, que milagrosamente vivia aos 40 anos, o que era bastante tempo de vida na época. A velhinha não era polpada do trabalho pesado, o senhor feudal não perdoava ninguém, todos os servos tinham obrigação de trabalhar para sustentar a família Lesaint.

- Vovó! vovó! - exclamou um dos meninos,que tinha a mão direita ensagüentada de tanto ter trabalhado naquele dia e apenas um de seus olhos enxergava devido a uma pedra fincada no seu outro olho.

- Diga, menino - retrucou a velha.

- Vovó! Quero ouvir outra história hoje!

Esse pequeno grupo dos servos de Lesaint tinha o estranho costume de contar histórias sombrias às crianças e elas, estranhamente, gostavam. Vários desses contos eram
influenciados pelas histórias da igreja, coisas absurdas criadas apenas para afastar os fiéis do paganismo, afastar as pessoas de todo o conhecimento, para que assim o clero
continuasse com o reinado absoluto. No entanto, algumas dessas histórias eram tiradas do imaginário do povo, da sabedoria popular e haviam muitos que acreditavam realmente
nos fatos narrados pelos contadores.

- Calado, sua mãe está dormindo e você devia estar fazendo o mesmo a essa hora - disse a velhota enquanto enchia um copo com a água que estava em um velho balde de
madeira. Levando o copo à boca, tomou tudo de um só gole, o que fez com que parte da água escorresse da boca para o vestido velho que ela usava, então continuou - mas eu
contarei uma história para você moleque, para que durma de uma vez.

- Oba!

- Escute aqui garoto, esta que vou contar, nunca contei a você e na verdade preferiria não contar... Sinto que o meu dia de partir para a salvação está chegando, preciso passar
adiante - tomou mais um gole de água - mas nunca conte pra sua mãe.

- Prometo ficar calado vovó.

- Certo.

A velha levantou e pegou uns trapos que estavam em uma gaveta do criado mudo, ao voltar para o banquinho em que estava foi possível ouvir um estalo vindo de sua coluna
vertebral anciã.

- Veja menino, está vendo esses pêlos escuros?

- Sim vovó.

- São pêlos de duende. Meu pai capturou um quando era jovem. Eu nunca cheguei a ver, ele dizia que seria melhor pra mim não ver a criaturinha. Poucos dias depois encontrei meu pai
morto com um facão enfiado garganta abaixo. Ainda não sei se ele resolveu se matar, não me surpreende, com uma vida dessas, é melhor estar morto mesmo. Tenho suspeitas de
que esse diabinho nojento o matou de alguma forma. Alguns anos depois encontrei uma gaiola enferrujada em uma cabana velha que ele usava pra guardar as ferramentas do
trabalho e dentro dela encontrei esses pêlos negros. Guardo como prova de que o tal duende realmente existiu.

- Vovó, essa é a história?

- Não moleque, não é; mas a história fala de duendes também. Sem mais demora, vou contar logo, já está na hora de dormir, tem que acordar cedo amanhã pra ceifar o trigo.

A velha pegou uma das velas que estavam próximas e aproximou mais do rosto, destacando todas as suas rugas, sujeiras e sua boca desdentada. Finalmente, com uma voz
sombria e etérea, ela começou a narrar.

" Nos tempos antigos, há muitos e muitos anos, um dos demônios de Satanás resolveu fugir para o mundo dos vivos, era pequeno e negro, seus olhos esbanjavam maldade e perversão na sua definição mais crua, deslizava como uma sombra durante a noite, com seu rabo longo e fino sempre balançando de um jeito ameaçador. O monstrinho, tendo escapado do enxofre do inferno, estranhou o ar limpo dos mortais, mas acabou se acostumando em muito pouco tempo. Ele saía à noite pelas fazendas, pregando peças nada divertidas. Certo dia fez com que um garfo caísse "acidentalmente" de ponta no olho de um grande senhor das terras, em seguida, num momento de desespero, o senhor arrancou o garfo com olho e tudo, enquanto gritava pela casa, derrubando todos os objetos que encontrava pela frente. O diabinho pegou o garfo com o olho e foi embora da casa, já tinha sua janta garantida naquele lindo talher de prata. A criaturinha era dotada de poderes engraçados, que o permitia se divertir abusando dos mortais. O lugar em que o pequenino estava acabou sendo chamado de mal assombrado e ninguém mais queria morar ali, logo, a maioria das fazendas da região ficaram vazias. O demônio, triste com a falta de diversão, acabou migrando para uma floresta próxima, para assustar, torturar ou matar os viajantes. Dizem que muitos anos depois, uma tal família Lesaint derrubou parte da tal floresta para construir suas fazendas. O mal sempre rodeou o pequeno diabo, os demônios de Satanás sempre vinham em busca do diabrete para levá-lo de volta ao inferno, no entanto, não se sabe se conseguiram pegá-lo. Dizem que ele ainda anda aqui, pelas terras dos Lesaint, pregando suas peças ou roubando coisas."

(Continua...)

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