"Viaje além de sua imaginação"

terça-feira, 16 de março de 2010

A Breve História de Keith Gallagan


Eu andava olhando para o chão sujo das ruas de Nova York, reparando em cada embalagem de bombom, em cada cesta de lixo, em cada saco plástico. Naquele dia eu estava decidido em fazer o que tanto queria, carregava comigo o instrumento de trabalho, escondido no casaco. O beco escuro, agora na minha frente, simbolizava o local certo, era a entrada dos fundos de um dos clubes noturnos famosos do bairro. Tentei abrir a porta de ferro, mas estava trancada, como suspeitei. Tirei a enorme arma que eu carregava de dentro do casaco e atirei na fechadura, chutei a porta para arrombá-la.


Entrando no local, era possível ouvir o som abafado da música eletrônica que tocava no palco distante, a fumaça do gelo seco que preenchia os fundos do clube embaçava minha visão e tornava difícil a respiração. Dois seguranças se aproximavam de mim, os vultos largos e altos.

- Ei! O que pensa que está...

Ele foi silenciado com um tiro de minha escopeta, agora voava para longe. O outro agarrou a arma com as mãos, acabou perdendo-as após um disparo, enquanto gritava de dor, me aproximei e lhe dei um chute na face.

Segui até a cortina, que levava ao palco onde a dançarina realizava sua Pole Dance.
Peguei o molotov que havia preparado em casa e joguei na platéia, todos corriam assustados, alguns rolavam no chão em chamas. Em seguida atirei para todos os lados, até gastar todas as balas que comprei, o sangue pintava as paredes de vermelho, a dançarina agora estava olhando fixo para baixo, no chão, nunca mais iria voltar a dançar. “Todos aqueles porcos mereciam aquilo, a morte era pouco para eles”.

Saí do local, novamente pela porta dos fundos, corri em direção à rua cinzenta e voltei para casa, andando pelos becos escuros para que a polícia não me encontrasse. Chegando a meu quarto, me joguei na cama e desmaiei devido ao cansaço.


Acordei olhando para o despertador, que agora fazia um barulho estridente, o derrubei no chão para calá-lo. Ao me levantar, tirei o casaco e fui ao banheiro, não podia me atrasar para o trabalho, aquele banho era um dos poucos momentos relaxantes que eu tinha, naquele dia parecia ainda mais prazeroso.

Eu trabalho em uma das maiores empresas de Nova York, para mim dinheiro nunca foi problema, tinha uma coleção de carros em minha mansão. Na garagem escolhi o carro que mais se adaptava ao meu humor naquele dia, uma Ferrari preta. Na rua todos olhavam para meu veículo, pessoas boquiabertas com os olhos arregalados, isso me enchia de satisfação.

Na empresa todos me cumprimentavam, as mulheres me mostravam um sorriso sedutor, sempre tive uma tara por uma delas, a única que não me dava atenção, porém naquele dia maravilhoso tudo parecia diferente, as coisas mudaram para melhor. Ellen, a tão cobiçada mulher agora vinha em minha direção com seu olhar sexy, o sorriso perfeito no rosto.

- E então garotão, está livre hoje à noite? - Disse ela.

- O quê? O que te levou a mudar de atitude assim tão de repente hein senhorita?

- Ligue para mim quando sair do trabalho, estarei no restaurante Sacré Coeur.
Satisfeita em ter me deixado abobalhado, ela foi embora para seu escritório, o lindo e longo cabelo negro e brilhante balançando suavemente, deixando seu perfume no ar, eu fitava o seu belo traseiro. “Hoje eu acordei com o pé direito” pensei.

- Ei Keith! Hoje à noite vamos ao clube não é? - Perguntou um de meus colegas de trabalho, me despertando dos devaneios.

- Ah cara, desculpa, mas não vou poder ir, sabe como é, agenda lotada, obrigado pelo convite - sorri.

A tão esperada noite havia chegado, meu coração batia cada vez mais forte, minhas mãos tremiam de hesitação, foi difícil abrir a porta do carro, nunca pensei que um dia seria trabalhoso colocar uma chave em sua devida fechadura.

Fui até a linda rua iluminada pelas luzes coloridas dos restaurantes, era um verdadeiro pólo gastronômico aquele lugar, os estacionamentos estavam todos lotados, tive que estacionar umas duas ruas depois, em um estacionamento privado. Estava com pena de sujar os meus sapatos novos, andei olhando para o chão, passando longe de qualquer poça de água.

Uma rua antes do restaurante, a polícia abordava um homem, com as armas apontadas para ele, o criminoso carregava uma escopeta, nunca imaginei que aquele bairro nobre e movimentado fosse tão perigoso.

O letreiro luminoso esverdeado do Sacré Coeur brilhava incessantemente sobre minha cabeça, era um lugar realmente lindo, combinava perfeitamente com Ellen e com todas as mulheres lindas que estavam ali. A avistei sentada numa mesa perto de uma pintura famosa, caminhei até lá.

- Olá, desculpe se atrasei alguns minutos.

- Tudo bem Keith, eu acabei de chegar também - disse ela, sorrindo para mim. Como era reconfortante aquele sorriso.

- Sabe você me parece menos bruto fora da empresa.

Aquela frase me deixou completamente sem jeito.

- Ah, e- eu tenho que adotar o jeito de ser de um bom chefe... Não posso pegar leve com os funcionários. Parece meio chato, mas é assim que tem que ser.

- Admiro isso em você.

- Escuta, sem querer ser chato, mas você nunca me deu atenção e agora se mostra uma admiradora minha, estou estranhando isso.

Antes que ela falasse algo, fomos interrompidos pelo garçom que perguntava o que iríamos querer como prato de entrada.

- A salada da casa, por favor - pedi.

- O mesmo para mim - disse Ellen.

A noite se seguiu à base de muito vinho e comida, acho que eu já tinha bebido bastante, estava começando a ficar tonto, as palavras de Ellen demoravam alguns segundos a mais para entrar em meus ouvidos. Comecei a soltar uma série de elogios a ela, inclusive disse que ela tinha uma bunda perfeita, Ellen não se chateou, pareceu ter gostado, apenas sorria, me deixava falando feito um idiota.

Quando ela me ajudou a pagar a conta no fim da noite, caminhamos até a entrada brilhante e florida do restaurante. Ela estava deslumbrante com aquele vestido vermelho, combinado com o batom em seus lábios, aquela boca sexy e irresistível.

Encaramos-nos por um bom tempo, sem dizer nada um para o outro. Nossos corpos se aproximaram lentamente, aqueles lábios agora seriam meus, iria sentir o sabor da mulher que desejei ter há tanto tempo, nossos rostos estavam a uns poucos centímetros um do outro, meus lábios en...

Acordei apavorado, uma explosão parecia ter acontecido na sala, pude ouvir vários passos lá, pessoas resmungando coisas, será que estavam tentando me roubar?

Olhei para mim mesmo no espelho que ficava de frente à cama, estava com aquele casaco velho, minha cara estava horrível, “Meu Deus” falei para mim. Um grupo de policiais uniformizados agora brandia suas armas em minha direção.

- Senhor Keith Gallagan, o senhor está preso acusado de assassinato em massa!

O perfume de Ellen, o dia e a noite perfeita, apenas devaneios de um assassino. Keith Gallagan, o caixa de supermercado que vivia sozinho em uma pequena casa, havia gastado todo o dinheiro que possuía com armas e munições, para se vingar daqueles que o humilharam.


“Ah, a velha e chata realidade...”

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